O desenho sempre foi um meio para chegar à pintura. O que às vezes me interessa é fazer um jogo, uma bipolarização entre o desenho e a pintura, não me deixo prender ao desenho, porque ficamos presos atravês de traços. A questão da afectividade é deixar as emoções fluir e soltar o espírito, as pinceladas são emotivas pelo gestualismo, num estado de libertação do ego, de não-consciência.
Penso que o carácter de realizar, o acto da tarefa da consciência de pintar uma tela, é a convergência entre duas entidades opostas, consciência/não-consciência. Quando pinto um quadro tauromáquico, estou pintando as emoções, os gestos, o ritual, procuro às vezes sentir-me na pele do toureiro, entre a vida e a morte. O touro é um animal nobre, basta-me um grande borrão de preto, e já lá vejo o touro, o preto que violenta os conceitos. Tem um ponto de convergência muito forte, e cada pincelada transforma-se numa dança. Nestas pinturas, exploro a mente, como um acto teurapêutico, pela não-consciência, ou automatismo.
Somos animais pensantes e os nossos grandes pensamentos realizamos, quando não pensamos e nem calculamos. Há um acerta relação entre os traços ao colorir as pinceladas. Há muito tempo, referia que eram as veias que corriam nas telas, os riscos os nervos, sentia uma necessidade de jogar as minhas emoções nas telas atravês dos traços. Ainda nos meus tempos de liceu, quando era um puto, na ausência do professor na sala de aula, ia para o quadro negro, fazer desenhos e rabiscos, havia giz colorido. E pintar é um retorno à infância, desbloqueio a alma e às vezes sinto-me aquele puto rabiscando uma tela.
A ideia de veracidade vem da franqueza de pintar, exprimir atravês da pintura com autenticidade. Digo que correm rios de tintas, como num poema, então a veracidade vem da maneira de pintar com o próprio sangue num sentido metafórico, uma maneira de transcender a técnica, para que o virtuosismo da pintura se converta numa arte sem artifício.